May 30, 2021

Diatribe contra o molecular e a micropolítica

Como estou de mau humor (pelo que tenho que fazer hoje) aqui vai uma coisa que me incomoda: o apelo excessivo ao ponto de vista molecular’ ou à dimensão micropolítica” no mais das vezes acaba sendo um retorno para um ponto de individual que se traduz em vigilância moralista.

Claro que esses conceitos são interessantes, podem permitir inteligibilizar uma série de relações. Mas reduzir eles à formas de auto-policiamento’ ou policiamento alheio’ é esvaziá-los de qualquer força e pôr no lugar um ponto de vista que é bem conservador.

Conservador pois mantém intacto o ponto de vista dominante’/‘hegemônico’ que é o de um indivíduo (como se este fosse o centro de todo e qualquer processo). Acho que o gesto interessante ali é justamente deslocar o sujeito desse ponto (o que implica abrir mão de entender’).

Quando digo que é necessário abrir mão de entender’” é que justamente tem certos processos que a resolução ou a capacidade de enxergá-los não se encontra nessa perspectiva individual. Ainda mais que essa perspectiva, como qualquer uma, tem aquilo que ela pode abarcar.

E para conseguir se deslocar dessa perspectiva isso não se faz com um poder da mente. Assim como ela é construída por inúmeros processos, a sua transformação acho que implica também a elaboração de procedimentos cujos resultados nem sempre fazem sentido para o indivíduo inicial.


Previous post
Meritocracia na academia Algo que nem acho polêmico: a meritocracia na academia é a forma que desigualdades sociais (burguesas ou aristocráticas) se perpetuam na academia.
Next post
Sobre uma enésima forma de crueldade acadêmica Uma coisa que sempre me parece um sinal da ‘falta de senso de realidade’ da academia com a situação é quando tem processos seletivos de bolsa e se