Diatribe contra o molecular e a micropolítica
Como estou de mau humor (pelo que tenho que fazer hoje) aqui vai uma coisa que me incomoda: o apelo excessivo ao ponto de vista ‘molecular’ ou à dimensão “micropolítica” no mais das vezes acaba sendo um retorno para um ponto de individual que se traduz em vigilância moralista.
Claro que esses conceitos são interessantes, podem permitir inteligibilizar uma série de relações. Mas reduzir eles à formas de ‘auto-policiamento’ ou ‘policiamento alheio’ é esvaziá-los de qualquer força e pôr no lugar um ponto de vista que é bem conservador.
Conservador pois mantém intacto o ponto de vista ‘dominante’/‘hegemônico’ que é o de um indivíduo (como se este fosse o centro de todo e qualquer processo). Acho que o gesto interessante ali é justamente deslocar o sujeito desse ponto (o que implica abrir mão de ‘entender’).
Quando digo que é necessário “abrir mão de ‘entender’” é que justamente tem certos processos que a resolução ou a capacidade de enxergá-los não se encontra nessa perspectiva individual. Ainda mais que essa perspectiva, como qualquer uma, tem aquilo que ela pode abarcar.
E para conseguir se deslocar dessa perspectiva isso não se faz com um poder da mente. Assim como ela é construída por inúmeros processos, a sua transformação acho que implica também a elaboração de procedimentos cujos resultados nem sempre fazem sentido para o indivíduo inicial.