Contra a inutilidade da filosofia
Hoje em dia uma das coisas que eu mais odeio é essa defesa absoluta da filosofia como algo que “não serve para nada”. Como se fosse um PECADO estarmos interessados nos efeitos que ela produz.
É claro que isso tem a ver com o ócio da nobreza no mundo grego. Com o pensamento de alguém que não produz mas tem sua vida produzida por escravos e pelas suas mulheres. A crítica do Simondon às origens hierárquicas do pensamento hilemórfico vai bem no alvo desse problema.
É por isso que se a filosofia deve muito ao mundo grego, não é por isso que não devemos tomar acriticamente tudo o que foi determinado naquele momento. Essa defesa da filosofia como sendo mais nobre por ser “em si” é em certo sentido reflexo dessa sociedade.
A ideia de um saber contemplativo, defendida por Aristóteles, como um tipo de saber mais nobre não pode ser descolado da estrutura social que organizava a sociedade em que essa filosofia surgiu.
Se temos como objetivo superar esse tipo condição social (algo que não me parece nem um pouco polêmico, sobretudo se pegamos a filosofia moderna - ainda que ela seja repleta de contradições que atravancariam isso) não vejo razão para perpetuar essa posição do saber filosófico.