Como compreender a “ascenção do amor” em O Banquete?
Uma das questões pra mim ao ler O Banquete é tentar entender como a “ascenção do amor” que a Diotima descreve não precisa ser entendida como um 1) desprezo do corpo e 2) uma anulação da própria experiência do amor. Acho que isso é difícil, pois parece bem firme ali isso.
Mas tem algumas formas de tentar, eu acho, resvalar pra fora disso. Primeiro que é preciso lembrar que não é o final do Banquete. Mesmo que a gente achasse que ela seja Platão, tem que lembrar que depois o Alcebíades aterra completamente o discurso ao fazer o elogio de Sócrates.
Também acho que é preciso ler essa subida como algo que não anule os passos precedentes, como se a subida na escada não implicasse em jogar ela fora, digamos. Ainda mais que a contemplação perfeita não é fácil para todos (daí o caráter iniciático).
Inclusive Sócrates inverte a natureza dos mistérios, pois ele, que não tem nenhum conteúdo, é justamente quem trata essas questões em público, abertamente, que revela o caminho pro amor. [mas enfim, essa é uma área que não me arrisco a comentar muito por saber pouco]
Mas fora esse elemento, acho que cabe destacar que o no segundo passo, quando ela fala sobre amar mais de um corpo, ela diz que se deve rejeitar um amor violento de um só. Ora, esse é justamente o amor também criticado no Fedro por Sócrates no primeiro discurso.
O que se critica não é tanto o caráter louco do amor, nem o caráter de ele estar ligado a uma pessoa (estou entortando d+ Platão aqui?), mas de não enxergar que o elemento erótico/divino é aquilo que excede o amado, ainda que seja por meio dele que experimentamos o amor.
No final do discurso a Diotima marca justamente que o Belo não produz contemplação inerte ou letárgica, pelo contrário. Isso seria o caso do que seria ilusoriamente belo. Também não aconteceria de se achar a vida vã. Pelo contrário, a experiência do belo é o que engaja na ação.