September 28, 2020

Comentários sobre rever The Wire

Ontem eu comecei a rever The Wire (num ritmo lento, provavelmente um episódio por semana) e foi como sentir o gosto de uma madeleine.

Muita tinta já foi gasta, mas o que mais me impressiona é como essa série não cede aos recursos fáceis do drama (apesar de personagens MEMORÁVEIS) e insiste em se articular de modo horizontal (sempre expandindo) e não vertical (avançando a trama, que parece andar a contragosto).

Ela é a antitese de uma série como Breaking Bad, que pra mim tem como único mérito (pelo menos quando vi) levar ao extremo o verticalismo narrativo, em que absolutamente tudo que acontece lá faz a trama andar, nada é desperdiçado.

Eu ainda estou no final da segunda temporada, degustando lentamente, mas evidente que Os Sopranos é a síntese dialética dessas duas séries (inclusive o que acontece nas franjas da narrativa do Tony é quase tão interessante quanto ele pois existe uma interdependência forte aí).

E no outro extremo (mas talvez fique ainda no campo da aposta) acho que aparece Atlanta. A segunda temporada de Atlanta faz com Sopranos o que Jordan Peele faz em seus filmes. Uma reversão do horror a partir do político que nem por isso abre mão do aspecto existencial.

Inclusive pra mim Atlanta é uma série que talvez deveria dar pra circunscrever como afrofuturista (mas aí talvez esteja esticando minhas patas em terrenos que apenas derrapo).

Inclusive acho que haveria algo a comentar também sobre o caráter episódico da série, mas de novo, aí teria que pensar como essa escolha formal apenas fortalece certos tipos de experiências que (acho) que Atlanta comunica.


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Comentários a partir de “Ética do real” de Zupancic Eu tenho uma hipótese, que ainda preciso trabalhar melhor, mas tem a ver com o livro da Zupancic sobre Kant, Lacan e a Ética do Real. O que é