Comentários sobre a definição de filosofia em documentos públicos
Com relação ao que comentei há pouco. Olhem esses trechos. O primeiro é dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio/Ciências Humanas e suas Tecnologias (1999). O segundo é das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio/Filosofia (2008).
Com o intuito de se preservar a liberdade do professor, o que acaba se fazendo é tornando a filosofia uma prática sem qualquer delimitação precisa. O professor é quem define o que é filosofia. Me pergunto se isso não acaba sendo um tiro pela culatra.
Eu consigo compreender muito bem que o que se procura evitar é justamente qualquer forma de dogmatismo. Mas para isso é preciso abdicar de qualquer forma de determinação para além do individual? Do jeito que a coisa se põe fica parecendo quase uma questão de doxa.
Essa preocupação em localizar a prática filosófica num fundo relativista, como se a sua normalidade fosse justamente ela ser questão de posição, me parece só mais uma forma de enfraquecer a atividade ao inadvertidamente abdicar da precisão.
Sem precisão a coisa me parece poder ter pouca eficácia. Sem qualquer objetividade para além do indivíduo (“das suas razões [particulares?]”) como pensar que essa prática seja emancipatória? No fundo atende bem ao modus operandi individualista presente na ordem neoliberal atual.