As assimetrias hierárquicas no mercado acadêmico
o que me deixa triste quando surge esse tópico “trabalho” e “estudo” com professores estabelecidos é que raramente você não sai decepcionado com a pessoa (mesmo que haja carinho e mesmo que este se mantenha).
E ainda tem aquelas variações meio crueis de (“eu também tenho amigos x”) que aparece quando a pessoa complementa: “eu também tive que trabalhar muito na minha formação” e tudo bem pode ser que sim mas é sobre isso a questão?
Falando do recorte que concerne meu mundo (de quem tá num curso “voltado” para a academia, como é a filosofia), existe uma crueldade suplementar na maneira como todos os critérios que importam institucionalmente na disputa por empregos tem a ver com tempo disponível.
Ter tempo para ler, anotar (e com paz de espírito de preferência), perder tempo com coisas difíceis (pois leva tempo) e escrever é o que vai acabar sendo usado como régua de mensuração (os concursos selecionam a partir da erudição acumulada e da produção de textos).
Eu não tou dizendo que eu tenho uma solução pra isso, mas é inegável que isso não constitui tudo que é um bom professor ou pesquisador de filosofia. Ainda assim, por razões quaisquer, todas as formas de avaliação acabam sendo dessa forma e assume-se que não há outra forma.
É óbvio que se o que vai ser avaliado é a capacidade de acumular uma erudição (para fazer provas) e escrever textos (para pontuarem seu currículo) que isso vai acabar privilegiando um certo grupo de pessoas (mesmo com um número crescente de ações afirmativas que se faça).
É bem frustrante que qualquer comentário sobre isso seja lido automaticamente como um “pedido de facilitação” ou “diminuição dos critérios”. A falta de capacidade imaginativa institucional realmente é algo que cansa demais.