July 7, 2021

Algumas questões delicadas sobre concursos para professor de filosofia

Infelizmente eu fico cheio de gatilhos com candidatos estrangeiros de metrópoles* (EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Itália) participando de processos seletivos de filosofia no Brasil, sobretudo pelo fato das seleções serem geralmente estruturadas de modo a valorizá-los.

Não é que eu ache que tenha que haver uma reserva de mercado para brasileiros nesse momento de precarização geral (embora sim, na filosofia, que não tem progresso científico” acho que é ok pedir isso), mas que os critérios adotados hipervalorizam publicações estrangeiras.

Também é preciso entrar no mérito de que se o tipo de prática filosófica é um decalque dos modelos europeu (sobretudo, daí a ênfase em história da filosofia) ou anglo (em menor medida, mas presente em alguns concursos), brasileiros sempre estão em desvantagem.

Você chega pra fazer uma prova e o que é avaliado é ou uma hiper-erudição historiográfica (panorâmica ou especializada, tem das duas) ou você estar inteirado em toda terminologia da filosofia anglo (mesmo que se oponha a ela). Porra, é óbvio que os gringos vão se dar melhor.

Parece que não tem uma reflexão sobre isso. Não se discute concurso em âmbito institucional. Claro, entendo. As pessoas tem tudo rabo preso e/ou estão elas próprias com as mãos sujas. Pois os casos em que os gringos tem vantagem são os concursos que parecem ser idôneos.

É impressionante como esses processos seletivos conseguem (pelo menos em todos os que fiz, uns 20) invisibilizar que aquilo é uma vaga de emprego e como tal o emprego tem funções específicas que nem sempre estão refletidas nos mecanismos de seleção.

Existe uma pergunta muito séria que fica silenciada (e que tendem a dar as condições que beneficiam os gringos): qual a função daquele emprego? O que se quer? Acho que isso se reflete numa pergunta mais importante que não é tocada: qual o papel da graduação?

É impressionante que nada disso aparece. Tudo isso é deixado como não-dito, como aquilo que não pode ser nomeado. Não deve surpreender que a disciplina esteja sob ataque em termos institucionais quando ela não consegue se justificar para além de platitudes.


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