February 15, 2021

A pluralização dos pontos de vista possíveis sobre uma filosofia

Uma das coisas que mais da gastura na filosofia é o quanto basta alguns idiotas se associarem à sua posição pra ela ser reduzida à sua face mais estúpida sem qualquer chance de retorno.

Claro que má fé e preguiça são estratégias legitimas de reduzir o campo de interesses a uma dimensão efetivamente manipulável. Ainda assim eu sinto que os efeitos sociais (não numa esfera pública abstrata, mas num campo de afins) desse procedimento são ruins quando publicizados.

Eu sou meio ingênuo e bobão nesse campo. Mas sinto que se algum parceiro afim (sem que precise convergência total) tenha algum interesse numa formulação, numa referência etc que você não curta, talvez o mínimo que se possa fazer seja ter boa vontade nessa hora?

Ter boa vontade singifica operar uma espécie de operação transitiva em que se pensa que talvez se alguém com quem eu convirjo em alguns pontos curte algo que eu não gosto, talvez seja possível que essa coisa que não gosto seja visível de outra forma que a torne mais fértil.

E claro que isso não significa que você precisa atualizar essa transitividade (embora eu confesso que acho muito bom, ajuda a se deslocar de si mesmo), mas só de manter a porta aberta sinto que isso é melhor pras ideias circularem. Mas claro, isso é uma visão meio boba, eu sei.

Tantas discussões imbecis poderiam ser evitadas se talvez se percebesse que quando o amigo — que você respeita e pensa junto em muitos momentos — mobiliza a dialética/rizoma talvez esse conceito ou essa operação sejam pensadas de formas diferente da forma como você pensa.

Sem contar a soberba embutida que é acreditar que algum conjunto de procedimentos conceituais específicos é mal de forma inerente e não pode justamente ser re-enquadrado ou re-contextualizado em outra situação.

Isso não quer dizer que é impossível se criticar algo, mas justamente que fazer crítica é algo de fato difícil e que não é simplesmente projetar nos seus inimigos a imbecilidade que você enxerga neles. Difícil é mensurar a distância entre o que você sente e o que a coisa é.


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Uma semelhança da operação crítica em Badiou e Arantes? Curioso que Badiou escreve sobre o fascismo de batata nos anos 70. Mesma época que o Arantes começa a criticar certos elementos da tradição
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A dificuldade e o desejo de mensurar a grandeza literária Vendo a recepção do Torto Arado (no início elogios - depois ressalvas - depois elogios de novo) e fico pensando como é difícil ler as coisas e