September 8, 2020

A importância do distanciamento irônico diante de doutrinas filosóficas

Tou lendo um texto aqui e percebendo que o problema desse texto é que não tem um distanciamento irônico entre a reconstrução dos argumentos históricos no texto e a posição do autor. É como se o autor que está fazendo essa reconstrução >acreditasse< no texto de modo imediato.

Isso talvez ficou confuso, mas é como se eu lesse Platão e achasse que a validade dos seus argumentos não precisassem de nenhuma mediação/intervenção/deturpração minha. Como se eu achasse que a eternidade da alma foi efetivamente provada no Fédon e que não precisasse mudar nada.

E tudo bem que na hora de mediar/intervir/deturpar a gente precise agir como se não estivesse fazendo isso para conseguir fazer isso. Mas o problema é quando você efetivamente lê sem mediar/intervir/deturpar.

Eu acho que isso é importante pois essa inevitabilidade da mediação/intervenção/deturpação, ou seja, esse distanciamento da letra do texto é o que possibilita (ao meu ver) afirmar sua existência enquanto espírito, ou seja, enquanto ideia/conceito que transcende essa encarnação.

Quando digo isso quero simplesmente dizer que há uma sobrevida das ideias com relação aos textos. Elas não se limitam aos textos e quando a gente transforma na comunicação a gente tá testando os limites do quanto podemos intervir sem afetar a ideia.


Previous post
Sobre o uso da filosofia para entender o presente Ontem acho que consegui articular um pouco meu incômodo com certos usos da filosofia para entender o presente (e isso acaba visibilizando alguns
Next post
A dissincronia entre pensar e entender Uma coisa que é desagradável na leitura é quando você lê algo e você sente que existe algum entendimento acontecendo ao longo da leitura, apenas não