September 13, 2021

A crise global da filosofia universitária

os caras nos eua tendo que fazer projeto de lei pra obrigar universidades a terem posições a maioria dos profs como vagas fixas e é pra acreditarmos que o sistema não está mundialmente fudido.

Eu acho uma loucura acreditar que tá tudo bem” e achar que é apenas um soluço do sistema. Claro, adoria acreditar que não é (e nem acho que a crise chegue igualmente pra todas as áreas), mas as humanidades eu acho que tão ali na beira do precipício.

Não acho que a gente tem que parar de lutar por financiamento do estado aqui no Brasil. Mas acho que é cada vez mais importantes que a gente comece a usar os espaços da universidade para já ir experimentando outras relações de ensino e aprendizagem que passem longe dela.

Quer dizer: isso é um problema para quem está na universidade. Pra quem está fora acho que simplesmente já é em parte a realidade presente (vê-se isso na galera que tá aí) tentar experimentar com outras formas de realizar a aprendizagem, o ensino e a pesquisa.

E isso é uma merda, pois qualquer tipo de experimento sempre vai parecer aquém” dessa ultra-mega-estrutura de gestão de recursos que são as universidades. Impossível não achar que qualquer experimento é sempre insuficiente, que não subsitui, não está à altura. E não estará.

Acho que inclusive a primeira coisa que é preciso aceitar (agora conseguir aceitar isso é difícil) é que justamente não dá para ser um pesquisador full-time que tem mil publicações e inclusive uma carreira internacionalizada e isso não significa um fracasso.

Isso eu acho que é difícil realizar na prática pois ainda vamos continuar sendo avaliado (fora algumas situações pontuais) a partir desses termos (inclusive deve se intensificar ainda mais, com as vagas minguando). Acho que tem um trabalho conjunto a se fazer nessa direção.

Não acho que isso é uma solução para todos, mas uma coisa que tem me ajudado é perceber o quanto eu construía minha formação e meus movimentos” na carreira de modo a de alguma forma me adequar minimamente a uma imagem do que acredito ser um profissional concursável”.

E isso sempre foi muito difícil pra mim pois por mais que eu goste dessa imagem do profissional (afinal, eu tenho um interesse real no que eu me engajo) eu sempre acabava cedendo mais do que eu gostaria pros meus interesses e me sentia culpado por não me manter firme no caminho.

Isso ficou ainda mais pesado depois que defendi a tese. Sem qualquer vínculo institucional de pesquisa (e sem nunca ter feito laços suficientes nesses espaços — como falei outro dia, eu tenho preguiça dos nichos estabelecidos) eu dificilmente consegui engatar qualquer coisa.

Eu me interessava por algo, começava a montar um projeto que julgava adequado”, conversava com alguns professores mas por inúmeras razões (geralmente trabalho) a coisa desandava e deixava de lado. Quando voltava a ter tempo já estava com outras ideias em mente e outros projetos.

Isso foi algo que tem me deixado muito culpado nos últimos 3 anos (embora de um ano pra cá eu acho que tenho trabalhado essa culpa). Esse tipo de formação e de desenvolvimento da pesquisa poderia ter sido suficiente pra passar em concurso em 2011, mas em 2021 parece improvável.

O resultado é nem ser um profissional concursável (já que existem certos modelos na filosofia que eu posso até me disfraçar de vez em quando, mas me parece cada vez mais difícil — embora continuarei tentando, claro), nem atacar mais diretamente aquilo que me interessava.

Acabei ficando sem concurso e sem também construir uma pesquisa mais consistente (que talvez conseguiria ter uma continuidade maior se não estivesse tão noiado com construir uma imagem de profissional’). Claro, fazia e fez muito sentido isso quando eu fiz, mas agora não sei.

Ultimamente tenho tentado reorientar minhas pesquisas para longe desse modelo (que como disse, é algo que eu tinha, então não é algo que todos tem que lidar). E acho que o que me ajudou a ir nessa direção foi tentar entender um pouco essa dor de ver que aqueles planos sumiram.

Não sei os efeitos disso a longo prazo, mas ao menos tem me dado um pouco mais de ânimo. E ao menos tem me estimulado a tentar outras formas de realizar o desejo de pesquisa (e ver como ele não precisa se dar exclusivamente a partir da carreira universitária).

Isso não significa que não tem sofrimento e nem que não haja dificuldades (claro que tem, a gente se junta pra tentar resolver lidar com isso coletivamente), mas talvez seja possível cultivar espaços em que a gente não encare o que fazemos como mais pobre” mais fraco”.

Enfim, talvez seja possível construir sofrimentos mais interessantes.


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O “reformismo conceitual” Cansativo ser um pacifista teórico (“reformista conceitual”?). Fico sempre querendo “conciliar” posições e costumo desgostar de pessoas que