November 22, 2020

A conexão Fedro-Turing

Pensando que deve haver algum ensaio a ser escrito sobre o mito de Thoth no Fedro sobre a origem da escrita e a Máquina de Turing.

Lembrei porque eu pensei nisso inicialmente. Acho que tava pensando sobre a famigerada desconexão entre os temas do amor e os problemas da escrita. A Carson conecta as duas partes do livro por conta da retórica, mas sinto que ainda haveria algumas pontas soltas.

A primeira coisa que pensei é se em alguma forma a escrita, a criação dessa tecnologia de delegação, artificialização da memória (que costumeiramente é a memória de quem amamos, das nossas distâncias) não seria um perigo para o amor (problema no sentido de um desafio).

A relação com o Turing veio em seguida pois acho que em alguma medida a Máquina de Turing parece (ao menos para um olhar irresponsável como o meu) com uma espécie de concretização última dos sonhos de Thoth (que mais que escrever talvez desejasse a computabilidade universal).

Eu não sei o que dizer, mas acho que de alguma forma a invenção da escrita, sua disseminação (que talvez só seja plenamente observável hoje, num momento em que nunca tanta gente escreveu com frequência e se comunica para além do corpo a corpo) implicaria em outra forma de amor.

E outra forma de amor pois or amor é fundamentalmente um problema de distâncias, de distâncias que nos compõem e nos subjetivam no momento em que amamos (eu, ao menos, subscrevo às tese de Carson no Eros, the bittersweet). A coisa muda pois as distâncias parecem ter mudado.


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