Uma crítica à leitura desconfiada
O grande limiar/filtro na carreira de pensadores me parece ser aquele momento em que você deixa de ter que se explicar e outros passam a te explicar.
Todo resto me parece apenas diferenças contingentes. Não acho isso correto não. Eu tendo a acreditar que a melhor coisa a se ter é uma postura socrática-rancieriana que parte de uma igualdade de inteligências e da ideia de que todos estão sempre discutindo na boa fé.
Eu nunca entendi muito essa “ética da leitura” baseada na suspeita. Não é nem que eu ache que as pessoas não possam me enganar ou passar a perna, só não consigo muito ver o que se ganha com esse tipo de postura hiper-crítica. Fica parecendo algo que trava a cooperação.
Acho uma doidera ficar nessa de “precisa ler a pessoa questionando cada passo”. Aqui eu tento fazer o inverso: ler como se a pessoa estivesse agindo na maior boa fé (o que não impede que as perspectivas sejam totais) e ver o tipo de mundo que aparece.
É “humbling” partir da ideia que é você quem tem algo a aprender com o outro (mesmo que a princípio não apareça nada). Por isso que geralmente passo a me interessar por ideias/autores quando pessoas que eu gosto/confio demonstram interesse ali: deve ter algo lá que não vejo.
Talvez por isso eu me irrite tanto com quem age da forma contrária: quem só consegue se movimentar a partir de espantalhos. Me parece uma coisa que no melhor dos casos é improdutiva/infértil, no pior dos casos apenas um ressentimento triste e bobo.