Tentativa de definição da filosofia
Uma tentativa de definição de filosofia que acho interessante (mas com limite, óbvio): a arte da navegação em complexificações auto-induzidas.
Ou seja, uma prática de orientação em uma realidade crescentemente complexa, mas cujo caráter de complexidade é induzido pela própria atividade de navegação. Não deixa de ser um pouco do lema sokrático: a aporia não é limite, mas condição do saber, amplia-se o campo do não-saber.
Um dos limites dessa definição é que ela não daria conta suficientemente do elemento externo ao navegante que também é um dos responsáveis pela complexificação. Pois a partir dos momentos em que o seu quadro conceitual é incapaz de dar conta do real que ele se reforma.
Logo, se o sujeito que navega é quem realiza distinções que complexificam o real, isso é motivado também por algo que é exterior a ele (esse exterior podendo ser tanto ‘de dentro’ como ‘de fora’).
Esse modus operandi é mais visível na filosofia antiga clássica e helênica, mas é também o que parece acontecer na estrutura triádica do conhecimento espinosano e no sistema de juízos kantianos.
“Segue o lógos” de fato talvez seja involuntariamente um resumo críptico adequado dessa ideia de navegação. Heráklito como sempre dando a letra:
“Desse lógos, sendo sempre, são os homens ignorantes tanto antes de ouvir como depois de o ouvirem; todas as coisas vêm a ser segundo esse lógos, e ainda assim parecem inexperientes, embora se experimentem nestas palavras e ações, tais quais eu exponho, distinguindo cada coisa segundo a natureza e enunciando como se comporta. Aos outros homens, encobre-se tanto o que fazem acordados como esquecem o que fazem dormindo.” (fragmento 2)