December 21, 2018

Sobre os desafios da universidade diante do EAD

Minha opinião (polêmica?) do dia é que se os cursos presenciais poderão ser substituídos rapidamente pelo EAD é porque a universidade meio que perde o seu lugar a partir do momento em que a sua função social passa a ser preparar jovens para o mercado de trabalho.

Primeiro ponto é que isso não acontece necessariamente por vontade da universidade. É um processo complexo, com inúmeros atores para além dos membros dessa comunidade — e talvez por isso mesmo, apesar de haver resistência interna, não frearam esse movimento.

Sobre a falta de propósito: basta ver como para esses fins a universidade realmente é ruim. Acho que sobretudo tem dois pontos internos e um externo. Internos: 1) currículos inchados e pouco atualizados, 2) professores desinteressados nos aspectos educativos.

Externo: As exigências de trabalhos no mercado sempre são ou muito específicas (tornando inevitável que haja buracos na formação do profissional) ou são de uma espécie de versatilidade (o que exigiria um tipo de flexibilidade talvez impossível de implantar em universidades).

E repito (ou digo pela primeira vez aqui), não é que a universidade seja um espaço obsoleto em si, mas me parece que para fins do mercado a sua estrutura seja completamente imprópria. Não surpreende ela estar sendo desmantelada (EADdização) quando ela se mostra inadequada ao fim.

Mas claro, pra defender os ideais da universidade para além do mercado, tudo isso exigiria que houvesse uma realidade menos precarizante e que também não se articulasse a partir de uma lógica do risco. Infelizmente não é o caso, deixa do universidades como um lame duck.

Eu não fico feliz com isso, na cerdade pra mim é bem triste, ainda mais quando vemos o efeito que isso pode ter mesmo sob essas condições nos últimos anos. Mesmo capenga, a capacidade de gestar, gerar e difundir discursos da universidade ainda é imensa.

Mas acho que em certo sentido ela está morta já. No sentido de que talvez a essa altura (quando a crise se torna visível — salve F. Jullien) já não haja nada pra fazer nela para reverter esse quadro. Isso é muito triste e pra mim pessoalmente, já que esse espaço é central p/ mim.

Ah mas o que então? Bem, pra pegar o Jullien, acho que há vários elementos desse projeto que podem ser reciclado em outros tipos de instituições enquanto o lento naufrágio das universidades segue correndo. Tentar levar adiante os elementos férteis em projetos ainda germinando.

Talvez aceitar que a universidade é um cadáver — algo que percebemos quando tiramos o olho das licenciaturas e olhamos pros cursos centrais (os que ganham mais recursos, mais professores) — seja um bom passo inicial pra poder pensar alternativas e como sobreviver para além dela.


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