Sobre o clima de amizade no Teeteto
Teeteto me parece um dos raros diálogos em que não há hostilidade na discussão de nenhuma das partes.
Isso é prenunciado bem no início do diálogo com essa fala do Sócrates: “Será Teodoro, que estou a ser de algum modo indelicado, devido ao gosto que tenho pelas discussões e à vontade que tenho de nos fazer conversar e de nos tornarmos amigos e afáveis uns com os outros?”
Eu acho isso muito bonito. É meu lado cafona. A ideia de que a amizade se faz em torno da conversa e estreita os laços ao conseguir estabelecer um solo comum de sentido. (e sim, acho que isso define bem filosofia e também o porquê - polêmica - acho a ideia de comum importante).
Consigo entender muito os problemas que “universais” trazem na medida em que se naturaliza certas tendências particulares como gerais. Isso é ruim. Mas a ideia de que a convergência é algo a priori fracassado e que todo comum é ruim é algo que tenho dificuldade em aceitar.
Por isso gosto muito do esforço do Deleuze em pensar a noção de multiplicidade, que é uma das suas formas de efetuar a fórmula “Pluralismo = Monismo”. Também poderia dizer que o conceito é um esforço de síntese sem que essa síntese seja originária (e pelo contrário, não é).
E, por fim, acho que a demonstração performativa dessa ideia, ou seja, da importância da convergência (que não deve ser feita de modo homogeneizante, mas a partir de uma defesa da heterogeneidade) aparece na própria ideia de conversa, no caráter público/social da filosofia.