Resmungos sobre a forma do ensaio
Tenho pensado no gênero do ensaio a partir da leitura do Cavell. Talvez deva ser pensado como a libertação de formas reconhecíveis num dado momento (mesmo que eventualmente uma forma específica se naturalize e faça escola no futuro).
Eu ia escrever: o ensaio é um diálogo da alma consigo mesmo. Mas essa o bróder Lukács já mandou.
Volto muito pra esse tema pois a escrita sempre foi pra mim a forma privilegiada de comunicação, interação e expressão (ainda que eu seja também uma pessoa apaixonada pela conversa). Então acho que tem um esforço nesse campo que é experimental em certa medida.
O que acaba acontecendo é que na maior parte das vezes me frustro com o que é tomado como ensaio. Geralmente uma forma fixa e previsível (ou se fala sobre si, fazendo um ensaio pessoal ou se fala sobre livros de outras pessoas, seja em qual gênero for).
Não tenho nada contra esses tipos de texto em si. Mas em termos experimentais, do ponto de vista da exploração de formas de comunicação, interação e expressão jamais me trazem nada de novo, raramente me levam para outros lugares. Na maior parte das vezes só transmitem informação.
E bem, eu sou platonista em certo sentido, não acho que a virtude (entendida aqui como a mensagem de que somos capazes de viver outras vidas) seja transmissível de forma direta. Daí, pra mim, o valor do ensaio. Ele menos me informa e mais me desloca (ao menos no sensível).
Por isso que, de novo, estou gostando de ler o Cavell. Apesar de muito próximo da filosofia, me parece que outra coisa está acontecendo. Sinto ele me conduzindo para lugares que não encontraria sozinho e que me faz repensar como situar as coisas no mundo.