O problema da mímesis diante da ausência de isomorfia natural
Acho que a mimesis é um problema/questão fundamental justamente porque não há uma isomorfia ou sistemas de equivalências prévios entre linguagens e códigos distintos. Isso vale pro campo das artes, mas pras ciências, pro pensamento, pra práticas políticas, amorosas etc.
O que entendo por mimesis é então o campo de elaboração e criação de equivalências que nesse processo acaba avaliando e testando (e ampliando, ao menos do que achávamos possível) aquilo que pomos em contato.
Como acontece na literatura parece dar uma dimensão do que é isso. Não são apenas os procedimentos literários que vão se mobilizando para dar conta de aspectos da realidade (que por sua vez não aparecem “em si”, mas sempre a partir de outros procedimentos), para apresentá-los.
A própria maneira que eles aparecem nesse procedimento (e que tem a ver com a natureza do procedimento explorado enquanto linguagem/procedimento possível ) acaba também revelando aspectos que só seriam possíveis pois uma nova equivalência foi instituída.
Acho que é nesse sentido que há uma mão-dupla na operação mimética. Transpor certos aspectos da vida (que existia em outros códigos/procedimentos) para o literário torna possível a coisa se dar de outras formas, aparecer como outra coisa sem que por isso seja qualquer coisa.