O desvio histórico da filosofia brasileira
Uma tese do Paulo Arantes é bem simples e direta: Claro que a ideologia francesa vai ser mais visível se a gente tem perto pra comparar um acesso à tradição epistemológica francesa (coisa que estava disponível na USP mas não nos outros lugares onde a french theory bombou).
Toda a bibliografia corrente sobre filosofia francesa que rola na gringa é a galera descobrindo que french theory não é um pensamento mágico, mas que o pensamento de Derrida, Deleuze, Foucault etc tinha uma forte continuidade com uma tradição francesa de filosofia da ciência.
Acho que a tese do Paulo Arantes é um pouco: sim, nós não cedemos ao “modismo” e pagamos de provincianos ou marxistas. Mas não por serem fechados, mas que por acaso o departamento da usp tinha sido formado justamente a partir de uma tradição de segundo escalão francesa.
Acho qeu a hipótese aí é que no lugar do departamento ter sido formado a partir das modas existencialistas/fenomenológicas, o que foi mais estruturante ali foi essa corrente secundária, menos internacionalizada (e que circulou menos o mundo), mas que deixou eles “preparados”.
Mas esse preparo é um golpe de sorte. Não é nenhum destino que faz com que o departamento uspiano apareça de modo triunfante. Pelo contrário, é um preparo que justamente marca sua condição periférica e colonial na estrutura internacional de circulação de “mercadorias acadêmicas”.
Se a questão é desmascarar o triunfalismo uspiano eu sinto que é mais jogo investigar o que fez as elites paulistanas fazerem uma missão francesa que tinha como objetivo modernizar a universidade mas que (no campo das humanas) acabou trazendo apenas autores de segundo escalão.
Não que sejam professores/teóricos ruins, óbvio que não. Mas não era um Bergson que tava vindo pro Brasil nos anos 30. Era gente nova, gente que depois ia se tornar famosa (ou nem tanto, apenas excelentes historiadores/epistemólogos).
Fica parecendo aquelas situações em que um time de um campeonato sem prestígio e sem grana pra contratar uma estrela, acaba tornando um jogador menor uma espécie de ídolo por conseguir jogar à altura do campeonato (tendo as vezes fama até maior do que os de “maior qualidade”).
Só quem torceu muito pra Sergio Manoel pra conseguir dimensionar as continuidades e distâncias com um Seedorf envelhecido.