O amor entre o começo e a eternidade
Uma das coisas mais brilhantes no Fedro, e que a Carson aponta e põe em relevo como só ela consegue, é mostrar que Eros não pode ter um “começo” que podemos delimitar (e previnir) temporalmente. Não dá pra fazer, como Lísias, e tentar simplesmente evitá-la de antemão.
Essa experiência é de ordem divina, logo é eterna. Seu começo entre os seres finitos seria o ponto que somos atravessados por algo de infinito que nos excede e que acaba, por efeito, nos movendo muitas vezes contra as nossas vontades.
Talvez seja possível entender o γλυκύπικρον (agridoce) como essa experiência em que é se posto diante de uma promessa infinita (doce) que deve ser enfrentada num campo concreto repleto de obstáculos (amargo). Mas o curioso é que sem o amargo não haveria distância pra sentir Eros.