Comentários sobre o discurso de Pausânias em O Banquete
Além da distinção entre sexo e amor que se encontra no discurso de Pausânias, tem um segundo elemento importante que cabe destacar e que faz com que o próprio discurso seja uma espécie de versão miniatura de O Banquete dentro de O Banquete. No caso é seu ponto de partida “legal”.
Pausânias parte das diferentes percepções sobre o amor em cidades diferentes, que legislam de formas diferentes sobre o tema. Pode-se falar, talvez, de diferenças culturais que produzem o questionamento sobre a natureza do amor (em alguns locais o amor entre homens é proibido).
Ele, porém, não escolhe entre uma dentre as várias posições sobre o amor, mas — tomando Atenas como caso exemplar — fala da conciliação possível entre essas divergências a partir da explicação das suas diferenças. A síntese passa por um esforço que antes desenvolve que reduz.
O próprio amor é compreendido de forma multifacetada (o Afrodite pandemônia, popular e Afrodite urana, celestial), tendo sentidos diferentes por serem práticas diferentes que, ainda assim, preservam um elemento comum (justamente o caráter erótico, isto é, Eros gerando atração).
Isso não deixa de ser curioso em outro sentido, já que isso parece repetir em miniatura o próprio movimento de O Banquete. Temos ali vários discursos equívocos, várias visões sobre o amor, mas nenhuma delas está “exatamente” errada. Trata-se de ir costurando os elementos comuns.
Perde-se demais lendo o Platão como se Sócrates fosse seu representante e o resto otário. Isso fica ainda mais óbvio num diálogo como O Banquete, que possui inúmeros discursos conflituosos mas que nem todos se refutam de uma vez por todas. Que quando lidos atentamente são ricos.