October 6, 2019

Comentários a partir do filme do Coringa

Achei esse comentário muito curioso. Concordo com a ideia da anomia social. Acho que é louco que no fundo ele culpa o esquerdismo pela anomia quando quem faz o papel disso é a atomização produzida como efeito da produção capitalista.

Então ignorando o que ele fala sobre esquerda (bobagem), acho que de fato ele toca num ponto importante que é o horror da anomia social. Paulo Arantes toca em pontos semelhantes na entrevista que ele deu pra galera do Tutameia.

O Coringa apresenta uma questão que eu venho circulando mas que eu me sinto incapaz de tratar direito no momento (preciso retomar Kant, preciso retomar Nietzsche), que é o problema da moral na constituição social. Eu sinto cada vez mais que a moral é uma cola.

É claro que as pessoas tratam bem seus próximos, cuidam dos seus. Não acho que isso trai a ideia de uma atomização e uma anomia social. Acho que a moral é eficaz ali justamente para a relação com esse outro que eu não conheço, que não é do meu círculo.

Pra retomar em termos deleuzianos: o que significa uma consistência na ordem social? Em que medida essa situação não é produzida pela separação distinção que se faz entre o caráter social e a sociedade? No lugar de consistência há (ficando em Deleuze) um (plano de) organização.

Na medida em que o caráter de multiplicidade do corpo social é alienado da sociedade a consistência devém organização, transcendência, que parece acelerar ainda mais o processo de atomização (pois o elemento social é retirado do indivíduo?).

Não é uma questão de postular uma solução. De achar que esse problema se resolve de cima” (prescrição de um social) ou de baixo” (emancipação desenfreada e respeito aos desejos individuais). Isso é justamente o caminho daquele que já está imerso nessa dicotomia.

Mas acho que justamente essa dicotomia é que tende a ser o problema. O conceito de multiplicidade de Deleuze (e Guattari de vez em quando) é interessante pois ele procura pensar o espaço entre uno e múltiplo. É uma espécie de comum divergente, se posso rolar na grama um pouco.

Não acho que dê muito pra fugir desse problema (no sentido de uma situação que exige resposta) que é o caráter fraturado das relações sociais que não são as minhas pois no fim das contas não apenas vivemos com elas como temos que resolver coisas conjuntamente. Uma merda isso.

E quando digo de resposta é óbvio que não falo de um conjunto de prescrições bem organizadas e prontas para serem explicadas. É algo mais da ordem de uma atividade de determinação de um comum a partir de uma articulação entre o prático e o teórico.


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