A sistematicidade de Deleuze
Aparece com frequência a ideia de que o Deleuze não é um filósofo sistemático. Acho isso uma coisa complicada. A gente pode dar três respostas pra isso. A primeira é ver o que ele fala. Tem uma carta que ele se descreve como um ‘metafísico clássico’ e outra que fala de sistemas.
A gente pode também ver o que ele faz com outros filósofos. O livro sobre Nietzsche, Kant e Berson são claramente sistematizações. Deleuze literalmente organiza uma metafísica do ressentimento em Nietzsche a partir da ideia de tipos que Nietzsche elabora na Genealogia.
Por fim a gente pode ver as “grandes obras” Deleuzianas. E nesse ponto tem dois elementos. Primeiros, elas são todas bem redondas, todas elas produzem uma espécie de ponto de vista geral (ainda que o que se espera abrir espaço nesse geral é sempre a diferença). Veja o rizoma.
O outro elemento é a extrema proximidade e continuidade que você vê em sua obra. Diferença e Repetição e Mil Platôs, por exemplo (para ficar nas mais sistemáticas) são praticamente os mesmos problemas, os mesmos conceitos. As variações são poucas mas, claro, fazem diferença.
Uma coisa que eu fui percebendo, depois de ver toda a sua obra, é que Deleuze é muito repetitivo. Mas isso não é defeito, se a gente lembra do conceito dele de repetição e do uso esquisito que ele faz do eterno retorno nietzschiano.