A incomensurabilidade das causalidades complexas
O problema de ler o Paulo Arantes é um pouco como ler o Marx tardio, Marx do Capital. As causas são tão complexas, amplas, impossíveis de dar conta completamente que você sente uma vertigem com relação a sua capacidade de agir.
É ao mesmo tempo impossível agir adequadamente sem uma dimensão correta da complexidade, mas ao mesmo tempo essa complexidade é ela mesma demosbilizadora na medida em que torna a nossa agência individual irrelevante no esquema geral das coisas.
Algo que se torna ainda mais pesado se considerarmos que somos bombardeados há séculos com a ideia da prevalência do indivíduo, o indivíduo como átomo e ponto irredutível da sociedade. A redução de corpos mais complexos a uma mera soma desses átomos.
Isso, talvez, seja o que torna essa complexidade desmobilizante. Pois sim, do ponto de vista do indivíduo a coisa parece impossível, intransponível. Mas o problema é justamente esse, em parte, a redução da ação ao ponto de vista do indivíduo. É isso que torna impossível ver.
É o que me faz retornar sempre pro Bento, pro Bento do Tratado Político, onde ele desenha os megazords dos tipos de governos. Onde ele procura tentar mostrar como construir um corpo complexo que ao mesmo tempo distribui o poder.