September 20, 2020

A ideia platônica no modelo do lacanismo-esloveno

O platonismo talvez pode ser pensado como uma percepção de que aquilo que diz mais sobre nós mesmos não é o que está em nós, mas fora de nós. Daí o esforço de sair da dóxa em direção a ideia. A dóxa é o nosso exterior-interior que bloqueia o acesso ao fora de nós que é a ideia.

É o que vemos sempre no Platão. Sócrates pergunta para todo mundo o que é uma virtude x’. O que é a temperança? Cada um dá sua opinião, mas o que Sócrates sempre mostra é que elas estão sempre aquém do que somos/vivemos/experimentamos. As _nossas_ ideias não dão conta de _nós_.

O que é a ideia? Talvez a ideia nunca é positivada, a sua própria existência tem uma natureza esquisita (investigada nos diálogos tardios), mas o que parece ser constante é que ela é a possibilidade de que o que vivemos/sentimos/experimentamos seja explicável, seja inteligível.

É como se nossas tentativas de pensar >imediatamente< a nossa realidade, nossas questões fosse o que acabasse atrapalhando essa busca, já que aquilo que a gente produz imediatamente é apenas opinião. Daí ser necessário inventar procedimentos para sair de nós mesmos.

Isso aí foi apenas mais um exercício que é mais um teste do que qualquer outra coisa (não importa se concordo’). Tenho tentado pensar não pensando e essa foi uma tentativa de pensar a lógica do platonismo a partir de uma lógica do lacanismo-esloveno elaborada pelo Gabriel Tupinambá.

Continuo pensando nisso, e acho que é por isso que o texto do Kleist sobre conversa (http://periodicos2.uesb.br/index.php/floema/article/view/1728…) é fundamental. Eu acho que quando a gente conversa (se dirige a outro) a gente é obrigado a se explicar de modo que não podemos nos esconder em certas elipses.

E dá pra entender as razões das elipses. Pensar dá trabalho, cansa ficamos com preguiça (o Kant fala disso no início da resposta dele ao que é esclarecimento). Eu acho que é foda mesmo, mas quando tem alguém ali diante de você você tem uma espécie de motivação (afetiva?).

Por isso não acho acaso que Platão escreva diálogos (e um tipo bem diferente, mais natural, que aquele que aparece no helenismo, que mais parece apresentação de posições). Tem um esforço (por mais artificial que pareça em momentos) de mimetizar a gênese impessoal do pensamento.

E por isso também acho que o caráter socializante da filosofia é fundamental. Sem ter relações com os interlocutores acho que a tendência é que se cultive uma comunidade não-generosa, mais interessada em destruir e tirar o tapete debaixo dos outros do que qualquer coisa.


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