June 15, 2020

A função social da poesia

Uma vez vi um filme sobre poesia, uma espécie de documentário sobre poesia (era italiano, algo sobre musas no título, vi no festival do rio entre 2014-2018 provavelmente), mas teve uma cena ali que me fez entender um pouco a função da poesia como atividade social.

A cena era meio que conversando com umas espécies de poetas/cantores do interior, que faziam umas canções/poemas pros animais, sobre a vida deles, enfim, era algo bem bucólico’. Lembro que me marcou demais pois acho que no fim das contas bateu como arte é uma atividade social.

Já comentei isso aqui, que acho que tem um caráter de nicho’ nas artes (e algumas pessoas fizeram bons apontamentos sobre isso). Que parte do seu sentido é para o meio que ela circula (e que sua autonomização desse meio pode ser ambígua — deixar de fazer sentido/ter valor).

E eu vejo a maneira como os poetas do rio de janeiro lêem poesia, consomem poesia e fora algumas exceções, parece ser uma atividade fundamentalmente social. Aquilo é a vida das pessoas (isso não é uma crítica, mas explica as intrigas, explica os elogios espalhafatosos).

Eu acho na verdade, no caso do circuito carioca, algo bem tóxico. Mas acho que entender em termos sociais’ e não puramente estéticos, me ajuda a ter um pouco de dó de quem precisa (as vezes por questões materiais) participar desse mundo.

E tem algo (que tou tentando articular mas tá saindo meio troncho) que é essa confusão de expectativas entre local e universal que aparece quando aquilo que é uma atividade social/local começa a ser filtrado pela 1) crítica/tradição e 2) pelos meios de reprodutibilidade técnica.

O elemento social fica meio escondido (e tudo bem), mas as expectativas passam a ser imensas quando você está se comparando com sumidades do campo, quando qualquer intervenção é ao mesmo tempo local e lido também comparado com a tradição (por conta da publicação e dos críticos).

Tem várias formas de amenizar esse salto de expectativas. Todo o papo de situar a coisa em escalas menores (literatura universal –> literatura nacional –> literatura nacional atual –> literatura carioca atual –> literatura publicada pela 7letras) amenizaria as distâncias.

Mas ainda assim, tem algo esquisitíssimo que as demandas sociais e as demandas da crítica meio que se fundem de uma forma esquisitíssima. Elogiar alguém é elevá-la no círculo social. Criticar alguém é ameaçar a amizade e assim por diante.


Previous post
O estilo de Deleuze O estilo do Deleuze é feito para expôr ao ridículo aqueles que querem apenas usá-lo por meio de sua superfície. Nada contra o pensamento deleuziano
Next post
A filosofia como navegação e as gêneses históricas da filosofia No momento frustrado como meus interesses pela pergunta pelo sentido da filosofia enquanto atividade de navegação (uma espécie de operação