December 2, 2020

A etiqueta e o fingimento

Tenho pensado sobre etiqueta. Sobre como tem um jogo interessante entre uma aspiração (que é a imagem que se quer passar) e sobre humildade (saber-se aquém desse ideal). Como se fingindo’ ser o que se aspira, acaba-se parecendo, mas parecendo-se tanto a ponto de se tornar isso.

Eu acho que o interessante é que justamente não importa a intenção, não importa o que se é. Penso na ideia de justiça, na ideia de ser justo. Não importa tanto ser justo na essência” (pois o que é isso? onde está isso? parece ainda mais ficção que qualquer ideal de etiqueta).

O que interessa é aspirar a tal ponto parecer justo que não haja espaço para a injustiça? Pois são esses os efeitos que vão ecoar de certa forma, é essa imagem que vai reverberar e até em si mesmo, a um ponto que acreditamos nela.

Eu talvez esteja pensando demais em termos de comunicação, mas sinto que muito mais do que o que somos e o que fazemos os sinais que emitimos (pelo menos em termos sociais) acabam sendo ainda mais importantes para construir um mundo de convivência.

Mas mais importantes pois nós mesmos podemos também sofrer os efeitos dessa situação, ser pegos a contrapé e acabarmos acreditando em ideais que talvez nem fossem bons para nós mas que vestimos para conseguir ludibriar os outros.

Em resumo, é como se o que eu estivesse pensando (pra fazer uma redução simplificador (?)) é que o gesto ético é se tornar responsável pelas imagens que se emite mais do que pelas ações que se faz (o que não significa controlar a recepção).

É um pouco como se cuidando do que se emite acabasse, das imagens que se quer transmitir (entendendo também o que está fora do controle), a gente acabasse aos poucos gerando em nós mesmos também um sujeito ético por consequência (na medida em que nós mesmos aspiramos a imagem).


Previous post
A filosofia socrática e a fofoca A relação da filosofia com a fofoca aparece já na morte de Sócrates. Ao mesmo tempo que o Sócrates morre por uma fofoca, a gente também só sabe dele
Next post
Uma tristeza e uma sensação de isolamento Pensando na aula de hoje sobre Frank O’Hara, sobre amizade, trocas e me bate como me faz falta me comunicar e socializar de uma forma que nem achei