July 19, 2022

A função institucional da peer-review na filosofia

peer-review na filosofia é apenas um mecanismo de suporte para a distribuição dos (parcos) recursos financeiros da área, repassem.

A ausência de modelos alternativos ao peer-review (que podem até existir por aí, mas que tem um impacto quase nulo nas práticas de contratação habituais do campo e por isso não são tão relevantes para a reprodução do campo) é um sinal de definhamento do campo como um todo.

Sim, a filosofia está morrendo, mas não por qualquer esgotamento teórico (e o que diabos é isso?), e sim pelo fato de que o horizonte de expectativas que movia a renovação ~do pensamento~ já não consegue mais ser reproduzido pelas dinâmicas de trabalho e emprego que o sustentam.

Realmente vejo só dois caminhos, um que seria a intensificação das restrições, da diminuição de variedade que se abriu nas últimas décadas globalmente (mas aí você acaba fazendo realmente um movimento de retração com relação aos horizontes que se abriram e reoxigenaram o campo).

Nesse caso, a diminuição de empregos tornaria mais competitivas as disputas até que esse campo (na sua iteração universitária’) volte a ser desinteressante para boa parte das pessoas (que ainda vão continuar sendo filosóficas’, mas em outros meios) como era antes.

Isso até acho que vai acontecer, essa retração” nas universidades. A questão é que muitas expectativas foram construídas nesse período de mais empregos e não acredito que elas vão recuar. A impressão é que outros espaços, que passem a fazer mais sentido, vão se elaborar.

O que não significa que vai ser fácil né, só que a filosofia provavelmente vai começar a parecer uma coisa mais diferente do que ela é atualmente (bem, é parte do problema da hegemonia universitária ela calar variações do que pode ser o filosófico).

Eu fico com a impressão que isso é um momento interessante, uma espécie de aventura mesmo pelo tanto de experimentação que vai ocorrer (ou já está ocorrendo, mesmo que nem sempre visível) e que vai levar a uma outra direção (sem que nós vejamos qual).

Estudar a história da institucionalidade filosófica, as diversas maneiras que a filosofia foi praticada e organizada em sua história (ainda que eu faça isso muito superficialmente, bem longe de qualquer sistematização ou erudição) tem sido algo que tem me ajudado nesse momento.

Não só ajuda a ver que as formas de organização da filosofia são muito mais plurais do que as que dominam hoje em dia, como também deixam a gente ver que tem muito espaço para inventividade sem que sejamos determinados pelo que a filosofia já foi.


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A inescapabilidade do problema do trabalho no mundo atual Não é que o trabalho dignifica ou é a essência do homem, mas para bem ou para mal, ele (em sua forma assalariada) ainda parece ser aquilo que nos